quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Quem é o pintor?

O ano era 2006, e embora membro do mais que conceituado selo M_nus, faltava algo para que o DJ e produtor norte-americano Jesse Siminski despontasse para valer no cenário da música eletrônica. E ele conseguiu. Siminski lançou uma daquelas faixas que qualquer DJ e produtor se orgulharia de chamar de sua: a melódica, minimalista, nebulosa e ao mesmo tempo cheia de autenticidade "Baby Kate". E a estrondosa faixa que teve como inspiração, segundo o próprio autor, a problemática modelo Kate Moss e foi tocada a exaustão em clubes e festivais mundo afora pelos mais variados DJs, bastou para que Jesse Siminski, ou simplesmente Heartthrob, conquistasse a atenção, e os ouvidos de inúmeros seguidores da música eletrônica. E as conquistas pelo jeito são com ele mesmo. Ironias à parte, em bom português, "heart throb", apelido conferido a ele pela colega Magda, tem o significado de algo como "galã conquistador de corações."

E após continuar lançando outras faixas de respeito e colaborando ora em produções, ora em remixes do pessoal do selo (destaque para as parceiras com Troy Pierce e Gaiser), em 2008 chegou a hora de Hearthrob lançar seu primeiro álbum. E como um dos poucos membros do M_nus a não residir em Berlim (devido a questões amorosas, o conquistador vive em Paris), Heartthrob rumou para a capital alemã disposto a ouvir alguns pitacos finais do chefe Richie Hawtin antes de concluir o trabalho. E eis que veio Dear Painter, Paint Me, álbum cujo título um tanto quanto curioso foi emprestado de uma série do pintor germânico Martin Kippenberger (1953-1997) e que foi definido como autobiográfico por Heartthrob.

Mas se 2008 viu Heartthrob debutar na produção de álbuns, viu também diversos DJs e produtores de minimal techno mostrarem-se cansados do som que os projetou ao sucesso partindo com tudo em busca de sonoridades mais próximas da house, com alguns tendo até mesmo a ousadia de cuspir no prato em que comeram soltando refrões como "basta já de minimal" por aí. Mr. Hawtin e seus pupilos, por outro lado, mantiveram-se fiéis ao minimalismo que fez do M_nus talvez a maior referência do estilo, conservando a coerência e a originalidade sempre presentes nos dez anos de existência do selo.

E como um dos maiores expoentes do M_nus na atualidade, Heartthrob segue à risca os mandamentos do label nas oito faixas que compõe Dear Painter, Paint Me sem, contudo, deixar de dar ênfase às marcas registradas que caracterizam suas próprias produções: faixas extremamente melódicas, sombrias e repletas de variações. E com todas essas características presentes, o techno "Futures Past" abre o álbum dando uma boa demonstração do que está por vir.

"Signs", a faixa de número três, foi a primeira a ser divulgada, já que saiu como single em maio, um pouco antes do lançamento oficial do álbum em 30 de junho último. Seguindo a linhagem de "Baby Kate" e em alguns momentos se confundindo com uma produção assinada por seu conterrâneo Audion, "Signs" logo ganhou cadeira cativa nos sets de Richie Hawtin devido à alta aceitabilidade do público.

O ponto mais alto de Dear Painter, Paint Me, no entanto, talvez seja alcançado logo na faixa que antecede "Signs": a excelente "Confession." Com mais de dez minutos de duração, a segunda música do álbum é um minimal techno dos mais sombrios, carregado de momentos hipnóticos.

"Blind Item" é outra que merece atenção. De estrutura mais simplificada, a faixa segue uma linha diferente das demais deixando o minimal de lado e se aproximando um pouco mais do que se pode chamar de tech-house.

Na seqüência, vem as complexas e cheias de efeitos "Interference" e "Slow Dance", ambas produções facilmente associáveis a Heartthrob. E se o álbum é realmente autobiográfico, a música que melhor personifica isso, ao menos quanto ao título, parece ser a derradeira "Heading for a Heartbreak". A melancolia, entretanto, fica restrita apenas ao nome da faixa minimal que põe fim ao consistente álbum de estréia do produtor norte-americano em grande estilo.

E Heartthrob se apresentou ontem em São Paulo, no D-Edge, como parte das celebrações dos dez anos do M_nus completados em 2008. Apresentação esta que deve ter sido um live, já que ele raramente se apresenta em DJ sets. Ótima oportunidade, portanto, para os paulistanos que se habilitaram a ir até a Barra Funda verem de perto o que há de melhor em Dear, Painter, Paint Me.

Tracklist:
1. Futures Past (download)
2.Confession (download)
3. Signs (download)
4. Out of Here (download)
5. Blind Item (download)
6. Interference (download)
7. Slow Dance (download)
8. Heading for a Heartbreak (download)

Esse texto encontra-se desde ontem, dia 02, no sítio rraurl: Dear, Painter, Paint Me by Cow Molester

Segue também um link de uma entrevista dada por Jesse Siminski ao site Resident Advisor em 2007 e que eu achei enquanto pesquisava a world wide web para elaborar a resenha. A entrevista começa logo com uma resposta bombástica do garanhão americano!


Nenhum comentário: