terça-feira, 17 de março de 2009

Compromisso com a história



RUY CASTRO

O Caso da Coxinha Envenenada

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, em Conchal (172 km de São Paulo), uma mulher serviu um prato de coxinhas ao marido. Este salivou profusamente e atacou uma delas com disposição. Mas, na primeira engolida, sentiu um gosto estranho e comentou que o quitute não estava nos padrões a que ela o acostumara. A mulher deu um sorriso amarelo e disse que devia ser a pimenta-do-reino.O homem fez "Grmff!" e repassou as coxinhas a seu cachorro, que o olhava com ar súplice, debaixo da mesa. O animal, fraco em etiqueta e de paladar menos sofisticado, devorou a porção quase de uma bocada. Ato contínuo, deu um ganido grosso, irreal, como se dublasse a si mesmo, revirou os olhos e estatelou-se, morto, na sala.Desconfiado, o marido correu para o pronto-socorro, onde o velho clister entrou em ação. Diante da suspeita de envenenamento, a mulher confessou tudo ao delegado. Tinha desviado R$ 15 mil da conta de ambos e temia que ele descobrisse. O jeito era matá-lo. Simples assim. Mais um pouco e, por causa de uma mixaria, a coxinha iria juntar-se à empada que matou o guarda, em matéria de estigma.Que eu saiba, nenhuma "mídia impressa" deu esta notícia. Devem tê-la achado banal. Fosse um sushi envenenado, quem sabe. Ou blinis de caviar. Mas o fato de os jornais terem esnobado o caso da coxinha não significa que ele não tenha sido amplamente divulgado. Em 12 páginas do Google, 150 portais, sites e blogs, dos mais potentes aos mais humildes, trataram da história com a necessária competência.Alguns deles: Fervendo, Mais Barulho, BlogGlubGlob, Vírgula, iParaíba, Anastácio Notícias, O Que a Bahia Quer Saber, Sanatório de Notícias, E Agora José? e Minhoca na Cabeça. É a prova de que, não importa se relevante ou irrelevante, nada mais passa em branco pela história.


Acima, a coluna do Ruy Castro da última quarta, dia 11, na Folha de S. Paulo. Nela, ele destacou a importância dos pequenos e aparentemente insignificantes blogs que povoam a world wide web. E apesar de não ter aparecido por aqui o caso da coxinha envenenada, me identifiquei bastante com as palavras do autor das biografias de Nélson Rodrigues e Mané Garrincha. Tudo porque o Blog do Cow Molester foi um dos poucos a falar do episódio do Grooverider com riqueza de detalhes, a mostrar o after-hours do Sven Väth junto dos amigos tontos que ele fez no litoral paulista e a divulgar que o selo do Digweed pagou jabá ao RA. Notícias do tuts tuts world que, definitivamente, não poderiam passar desapercebidas pela história. É nóis!

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